Falecimento do 1º Presidente do NGHD

Faleceu na passada quinta-feira, 10 de setembro, o Dr. João Castel-Branco da Silveira, sócio fundador do NGHD e o seu primeiro presidente.

A Direção do NGHD apresenta os mais sentidos pêsames à sua família.

"In memoriam do Dr. João Castel-Branco da Silveira

29 Agosto 1937 * 10 Setembro 2020

A primeira vez que encontrei o Dr. João Castel-Branco da Silveira foi num corredor do seu Serviço no H. Sª Maria. Eu ainda aluno ele já médico do Quadro. Nunca mais me esqueço das suas lágrimas por não ter meios suficientes para salvar um doente. Era um homem emotivo que lutava tenazmente pelo bem-estar dos Doentes.

Reencontrei-o mais tarde, em 1984, em Setembro durante o Congresso Internacional de Gastrenterologia, em Lisboa, onde apoiou com veemência a ideia da formação do Núcleo de Gastrenterologia dos Hospitais Distritais (N.G.H.D.) – que eu lançara em Junho do mesmo ano.

Foi um dos gastrenterologistas presentes na determinante "reunião dos 11" nas Caldas da Rainha em 29 Novembro – onde foi aprovada a constituição do N.G.H.D.

Integrou a Comissão Coordenadora (Ad-hoc), formada naquela reunião para consolidar o caminho do N.G.H.D., formando equipa com Carlos Pinho, Joaquim Duarte Costa e Vasco Trancoso, que pouco depois reuniu no H. Amato Lusitano – onde o seu aporte foi fundamental para a elaboração dos primeiros estatutos. Foi o primeiro Presidente do N.G.H.D. - tendo organizado a 1ª Reunião Anual no Hospital de Castelo Branco (1986). Foi essencial o seu contributo para que o N.G.H.D. nascesse e se desenvolvesse.

Mas para além de um vastíssimo currículo e um percurso profissional brilhante (já divulgado por outros) que culmina, em 2019, com a atribuição da Medalha de Mérito pela Ordem dos Médicos, permitam-me que sublinhe sobretudo o homem de enorme carácter com quem tive o privilégio de conviver e usufruir da sua Amizade.

Um homem de muitas causas e lutas. Pugnava não só por melhores condições para os Doentes no Hospital onde foi Director, mas também para o país em geral. A sua visão era abrangente e era determinado no sentido do desenvolvimento não só dos aspectos assistenciais mas também formativos e de investigação.

Durante uma reunião que, em representação do N.G.H.D. mantivemos no então Ministério da Saúde foi patente a forte argumentação que apresentou para que o N.G.H.D. colhesse apoio para estudos multicêntricos (de que era acérrimo defensor) – "pois há todo um país por investigar - onde 75% da população reside na área de atração dos H. Distritais". Foi ainda defendida a necessidade imperiosa de manter e ampliar mesmo a distribuição de Internos da Especialidade pelos H. Distritais – evitando assimetrias entre os H. Centrais e Distritais - fundamental para assegurar ciclicamente o futuro do funcionamento dos Serviços.

Para além de uma figura incontornável no panorama da Gastrenterologia era, sobretudo, um homem bom. Amigo do seu Amigo e um paladino incansável pela defesa dos Doentes.

São suas estas palavras escritas em 2009: " Soubemos arrancar com o N.G.H.D. na ocasião propícia e torna-lo associação útil e indispensável na rede de cuidados diferenciados e parceiro privilegiado das nossas Sociedades Científicas. Preparemo-lo para os tempos de hoje. Valemos muitíssimo em número e cada vez mais em qualidade. E estamos no terreno ao lado dos Doentes, Pessoas carentes e próximas de nós."

Num tempo pandémico, pleno de dificuldades e de mudanças "charneira" na assistência em Portugal, saibamos pois homenageá-lo como ele certamente gostaria. Lutando "novamente" pelo ingresso de Internos nos Serviços distritais, promovendo mais a investigação multicêntrica e a assistência de qualidade centrada no Doente.

Para ti meu querido e nobre Amigo João José digo-te que já estou com saudades tuas e dos nossos convívios – que nunca esquecerei. Mas estarás presente nas nossas memórias e estou certo que os colegas do N.G.H.D. também lembrarão as tuas / nossas causas e tudo farão para honrarem o teu legado.

Endereço ainda à família os mais sentidos pêsames e solidariedade neste momento de dor – que partilho – pois ao escrever estas linhas não pude conter uma enorme tristeza e emoção.

Até sempre

Vasco Trancoso"

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